"Você me olhava sem piedade nenhuma, amor. Eu ainda consigo me lembrar do dia em que me vi na sarjeta por causa de um simples gesto. Eu sentei e chorei. Eu não tinha mais armas. Eu não tinha mais forças pra lutar. Não tinha como entrar em guerra, era batalha perdida. Suicídio. E eu me via caindo… eu me via no lixo… Era o fim da estação pra mim, meu bem. E o pior: eu gostava de te observar de longe. Só eu sabia como seu jeito misterioso me fazia sentir. Era fascinante demais. Só eu sabia como seu olhar fúnebre e triste era bonito. Só eu sentia o encanto, amor, só eu entedia tua tristeza. E só eu a abraçava. Só eu queria aquilo pra mim, só eu percebia o quão bom devia ser arder contigo. E por fim: eu fui o primeiro e único que conseguiu enxergar a crueldade em tuas pupilas. E bem lá no fundo, bem no centro de seus olhos, quem é que conseguiu enxergar o vermelho que ardia em tua alma? Amor, eu juro, ninguém quis arder em tuas chamas como eu quis. Ninguém nunca te entendeu e te acolheu da forma que eu fiz. E o mais absurdo: ninguém me amou como você. E o mais patético: ninguém nunca te amou como você merecia. Ninguém nunca foi grande o bastante pra você. Ninguém nunca te ofereceu o mar. Eu, meu amor? Eu sou pequeno demais. Minha alma não vale nada. Eu não sei amar."
João Amaral
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